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Qatar longe de estar pronto para a Copa do Mundo de 2022

Qatar: um canteiro de obras na preparação para a Copa do Mundo de 2022Arquivo pessoal/Rodrigo RangelNove dias no Qatar, o pequeno emirado no Oriente Médio banhado [...]

Por Mauricio Santos em 30/12/2019 às 17:14:05

Qatar: um canteiro de obras na preparação para a Copa do Mundo de 2022

Arquivo pessoal/Rodrigo Rangel

Nove dias no Qatar, o pequeno emirado no Oriente Médio banhado pelo Golfo Pérsico, são o suficiente para constatar que o país ainda não está pronto para sediar a Copa do Mundo de 2022.

Local também escolhido pela Fifa para o campeonato mundial de clubes de 2019, o Qatar recebeu ao menos 15 mil flamenguistas neste dezembro, além de alguns torcedores dos clubes Liverpool, Hienghène Sport, Al Hilal, Monterrey e Espérance de Tunis.

O número relativamente pequeno de torcedores que entraram no emirado, se comparado com os mais de 700 mil turistas que visitaram o Brasil na Copa do Mundo de 2014, dá a dimensão do principal problema a ser resolvido pelo Qatar: a organização de grandes eventos.

Um bom exemplo para analisar se o país está pronto para receber um evento como a Copa do Mundo é a entrada e a saída dos estádios, isso faltando menos de três anos para os olhos do mundo verem bola rolar.

Com capacidade para quase 50 mil pessoas, o bonito e moderno Khalifa International Stadium, uma das arenas-sede da próxima Copa do Mundo, recebeu os jogos do campeonato de Clubes de 2019.

Apesar de a entrada do evento ter se mostrado mais bem organizada que a saída, motoristas de táxis e de aplicativos estavam normalmente mal informados sobre os pontos de desembarque de torcedores.

No meu caso, tive que dar a volta por fora em mais da metade do estádio para encontrar o ponto exato de entrada. Em um outro dia, ocasião em que fui de ônibus para o Khalifa, o ponto de desembarque também era longe da entrada da arena, e poucos funcionários sinalizavam o caminho a seguir.

Esses são, contudo, problemas bem menores se comparado com a confusão da saída do jogo Liverpool e Monterrey, no último 18 de dezembro.

Torcedores se aglomeram em Doha ao sair de estádio após jogo Liverpool x Monterrey

A desordem no suntuoso metrô que nos levou do estádio, por sete estações, até o calçadão à beira-mar da cidade chamado de Corniche, assustou até mesmo brasileiros acostumados com a entrada e saída do Maracanã em dias de casa cheia. O calçadão é uma das regiões mais populares de Doha, capital do Qatar.

Sem trens suficientes para dar vazão à multidão que se aglomerava nos corredores da estação do Khalifa International Stadium, uma fila interminável e larga de torcedores, incluindo idosos e crianças, se formou e caminhou lentamente, por mais de 40 minutos, até a porta de um vagão.

Após a interminável caminhada em ziguezague até a entrada do luxuoso vagão, com ar de classe executiva, a entrada se transformou em um pequeno tumulto com empurra-empurra. Por pouco, torcedores não se feriram.

Crise geopolítica

Não é primeira vez que um país no continente asiático (o Qatar está localizado na península arábica da Ásia Continental) sediará uma Copa do Mundo, mas é a primeira vez que um emirado do Oriente Médio receberá o principal campeonato de futebol do planeta.

Acusado de financiar o terrorismo internacional e abrigar dissidentes fugitivos, o Qatar está brigado com a maioria dos seus vizinhos que o circundam, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.

Aviões e navios com destino ao Qatar passaram a mudar as rotas desde o segundo semestre de 2017, quando a crise diplomática tomou maiores proporções. O temor nos hotéis é o de que haja algum novo problema diplomático que possa impedir ou dificultar a ida de turistas ao Qatar.

A crise diplomática do Qatar com outros emirados da região é tão grande que os hotéis desaconselham viagens "bate e volta" a vizinhos como Omã. Os dois países vivem uma relação que hoje é uma exceção em meio aos diversos problemas do Qatar.

Com extensão territorial de apenas 11 mil quilômetros quadrados, ou seja a metade do Sergipe, menor estado brasileiro, o Qatar é um nanico se comparado com a gigante vizinha Arábia Saudita.

A fronteira entre os dois países, de 65 km no deserto, está há meses fechada devido às acusações de financiamento de terrorismo. Em passeio pelo deserto, é possível ver o início da Arábia Saudita, mas a tensão no ar é evidente devido a atual crise.

País em construção

Com um custo extraoficial estimado em US$ 200 bilhões, a Copa do Mundo no Qatar transformou o país em um canteiro de obras, como visto no Brasil nos anos anteriores a 2014.

É comum encontrar avisos de obras pelas ruas, com o recapeamento de pistas e ou outras construções como passarelas subterrâneas. A edificação de prédios que abrigarão futuros hotéis também é visível em boa parte de Doha.

As obras continuam sendo tocadas mesmo madrugada adentro. Em conversa com um funcionário de uma delas, o homem revelou que algumas tinham três turnos de trabalho para que os prédios sejam levantados mais rapidamente.

Em alguns hotéis, o turista pode encontrar algo que não se vê nas ruas do Qatar: bebida alcoólica.

Cervejas, vinhos e destilados não são vendidos em outros pontos da cidade, mas somente na área interna de uma dezena hotéis, como bares e pequenas boates.

Na chamada "funzone", bebidas alcoólicas são permitidas, mas a área fica em uma região mais distante do centro.

A restrição religiosa à bebida eleva o preço de uma long neck para espantosos R$ 60. Era comum ouvir brasileiros imaginando o caos durante a Copa do Mundo, quando o consumo de bebidas costuma aumentar.

Um ano antes da Copa do Mundo, o Qatar já receberá os jogos da Copa da Confederações, em 2021. Para tanto, a construção de estádios também está a todo o vapor.

Um deles, o estádio Education City, chama atenção por sua beleza vista de fora. O local ia ser utilizado para um dos jogos da semifinal do Mundial de Clubes de 2019, mas teve sua inauguração adiada por problemas burocráticos.

Mais um ponto da organização que deixou a desejar, na avaliação de torcedores que foram ao campeonato de clubes.

Comemorações nas ruas de Doha em 18 de dezembro, o 'Dia Nacional do Qatar'

Dia Nacional do Qatar

A população do Qatar, de cerca de 3 milhões de pessoas (a maioria homens) é orgulhosa de sua bandeira nacional.

No dia 18 de novembro, o "7 de setembro" do Qatar, eles produziram uma festa nas ruas impressionante, que chamou a atenção dos turistas. Com a diferença das roupas caraterística dos muçulmanos, religião predominante do país, as comemorações pareciam o Carnaval brasileiro.

Jovens, idosos e crianças com bandeiras nos carros fizeram um buzinaço e pararam o trânsito nas ruas, tudo para demonstrar o orgulho por um país que vive uma monarquia absolutista liderada pelo jovem Emir Tamim bin Hamad al-Thani, quarto filho do monarca anterior.

Porém, o desfile militar, com crianças uniformizadas e algumas delas portando armas que não parecem de brinquedo, é assustador.

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Qatar é o país mais rico do mundo se for levado em conta o Produto Interno Bruto (PIB) per capita.

A vista do bairro "Pérola", em Doha, é dominada por uma série de prédios modernos e é um dos cartões postais da capital. Tal cenário reforça que o país realmente tem muito dinheiro para investimento em infraestrutura.

Loja no mercado Souq Waqif. Tradição contrasta com os arranha-céus modernos em Doha

Matheus Leitão

Entre as atrações está também o mercado de rua Souq Waqif. Conhecido por vender roupas tradicionais, especiarias, temperos, artesanato, leva o turista a voltar ao passado daquela região e contrasta quase perfeitamente com a arquitetura ultramoderna e futurista de outras partes da cidade.

Um flamenguista passeia no Museu de Arte Islâmica com arranha-céus ao fundo

Arquivo pessoal/Rodrigo Rangel

O Museu de Arte Islâmica, feito de calcário, completa a região mais antiga da cidade. Em meio a mesquitas, palácios do governo, com a guarda do Emir exibindo seus camelos, dão uma aula sobre a cultura de todo o Oriente Médio.

Alias, a coleção com peças importantes de outros países da Ásia Continental, elevam o museu ao posto de "Louvre" da região e mostram mais uma vez a força econômica do Qatar. O país que fará de tudo para pôr, ademais, a sua marca no esporte mais conhecido do planeta.

Palácio do governo ao fundo com a guarda do Emir e camelos

Arquivo pessoal/Rodrigo Rangel

Fonte: G1

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