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Acordo prevĂȘ "fĂĄbrica de mosquitos" para combater dengue em Brumadinho

Por Mauricio Santos em 17/03/2021 às 12:06:56

O rompimento da barragem ocorreu em 25 de janeiro de 2019. Após o episódio, foram contabilizadas 270 mortes, das quais 11 corpos ainda estão desaparecidos. O vazamento de aproximadamente 12 milhões de metros cĂșbicos de rejeito também causou destruição de comunidades, devastação ambiental, impactos socioeconômicos em diversos municĂ­pios e poluição no Rio Paraopeba.

De acordo com a Secretaria de Estado de SaĂșde de Minas, os dados de notificação da dengue nas cidades atingidas não demonstraram alterações atĂ­picas. Em 2019, ano da tragédia, Brumadinho registrou 2,1 mil casos da doença. O nĂșmero é bem superior ao de 2018 (apenas 25 ocorrĂȘncias foram notificadas) e ao de 2020 (174 ocorrĂȘncias). O governo, porém, não vĂȘ associação entre a explosão de casos e o rompimento da barragem, pois a região não viveu uma situação isolada. O crescimento significativo se deu em todo o estado: foram 29,9 mil registros em 2018, 480,6 mil em 2019 e 84 mil em 2020. Nesse sentido, a construção da biofĂĄbrica é considerada medida de carĂĄter compensatório, isto é, trata-se de uma medida voltada para melhorar a qualidade de vida na região, compensando assim eventuais danos ambientais considerados irreparĂĄveis.

O uso da bactéria Wolbachia no controle das arboviroses como dengue, zika e febre chikungunya começou na AustrĂĄlia e jĂĄ é adotado em 11 paĂ­ses a partir do World Mosquito Program (WMP), uma articulação internacional de diversas instituições cientĂ­ficas. No Brasil, ele é conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o apoio do Ministério da SaĂșde. Os trabalhos começaram em 2015 em duas ĂĄreas pequenas: em Jurujuba, bairro de Niterói, e em Tubiacanga, bairro do Rio de Janeiro. Com os bons resultados, tem sido realizada uma expansão para outras cidades, inclusive em Minas Gerais, a partir da parceria entre a Fiocruz e a Secretaria de SaĂșde.

O projeto tem demonstrado sustentabilidade: a fĂȘmea do Aedes que possui a Wolbachia em seu organismo é capaz de transmiti-la a todos os seus descendentes, mesmo que se acasale com machos sem a bactéria. Além disso, quando apenas o macho tem a Wolbachia, os óvulos fertilizados morrem. Dessa forma, a bactéria é transmitida naturalmente para as novas gerações de mosquitos.

A Wolbachia, segundo a Fiocruz, estĂĄ presente naturalmente em 60% dos insetos, mas não no Aedes aegypti. O que o projeto faz é uma introdução artificial em seu organismo. Os pesquisadores envolvidos ressaltam que a iniciativa não envolve nenhuma modificação genética, nem no mosquito e nem na bactéria. Além disso, o objetivo não é eliminar o Aedes aegypti do meio ambiente, apenas substituir uma população capaz de transmitir doenças por outra incapaz.

Os resultados não são obtidos em curto prazo. Por essa razão, a população deve continuar se esforçando para impedir o acĂșmulo de ĂĄgua parada, que serve de criadouro para os mosquitos. Da mesma forma, o poder pĂșblico não deve afrouxar as demais medidas de prevenção às arboviroses, entre elas a aplicação de produtos quĂ­micos e biológicos quando recomendado, como fumacĂȘ e larvicidas.

Conforme o acordo, caberĂĄ a Vale construir, equipar e mobiliar a estrutura da biofĂĄbrica, que serĂĄ propriedade do estado de Minas Gerais. Uma vez concluĂ­da a obra, o projeto serĂĄ operacionalizado pela Fiocruz e pelo WMP. ?A expectativa é que a liberação de mosquitos no meio ambiente comece cerca de quatro meses após a entrega. A iniciativa serĂĄ voltada inicialmente para a região atingida na tragédia, mas poderĂĄ alcançar outros municĂ­pios mineiros caso haja disponibilidade financeira.

Acordo global

O acordo global que fixou o valor de R$ 37,68 bilhões, nomeado como termo de medidas de reparação, foi firmado entre a Vale, o governo mineiro, o Ministério PĂșblico de Minas Gerais (MPMG), o Ministério PĂșblico Federal (MPF) e a Defensoria PĂșblica do estado. Ele se refere aos danos coletivos causados na tragédia e estabelece medidas de carĂĄter reparatório e compensatório. As indenizações individuais e trabalhistas que deverão ser pagas aos atingidos estão sendo discutidas em outros processos judiciais e extrajudiciais.

Diversos tipos de despesas ficaram acertadas no acordo, como transferĂȘncia de renda e atendimento de demandas das comunidades atingidas; investimentos socioeconômicos na Bacia do Paraopeba; ações para garantia da segurança hĂ­drica; recuperação socioambiental; obras de mobilidade urbana e melhorias dos serviços pĂșblicos, entre outras. Uma das principais medidas compensatórias serĂĄ o financiamento do inĂ­cio da construção do Rodoanel Metropolitano, que deverĂĄ contornar a Região Metropolitana de Belo Horizonte e ligar as rodovias federais BR-040, BR-381 e BR-262.

São dezenas de projetos, sendo que alguns serão executados diretamente pela Vale. Em outros, caberĂĄ a ela apenas disponibilizar os recursos para ações do governo estadual e para definição dos atingidos em conjunto com o MPMG, o MPF e a Defensoria PĂșblica do estado.

HĂĄ trĂȘs semanas, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais recebeu projeto de lei, de autoria do governador Romeu Zema, para que o estado seja autorizado a utilizar a parte dos recursos que se refere a iniciativas de sua responsabilidade, até o valor de R$ 11,06 bilhões. Sem o aval dos deputados mineiros, o dinheiro não pode ser movimentado em função da Lei 23.751/2020, que estima as receitas e fixa as despesas do estado. Aprovada no ano passado, ela determina em seu Artigo 17Âș que o uso de recursos provenientes de acordos relativos à tragédia de Brumadinho necessita de autorização do Legislativo estadual.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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